quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Jovens que vivem em Raqqa mostram "a verdade" da cidade que o Estado Islâmico tomou como sua capital

Divulgação Internet
Em declarações à BBC, um dos elementos da RBSS - galardoada, este mês em Nova Iorque, pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) com o prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa - deixou-se filmar e explicou como atuam e tentam passar informações. "Temos uma equipe de 18 repórteres que trabalham na cidade [de Raqqa] e mais dez pessoas em outras localidades. A equipe em Raqqa envia notícias, vídeos e fotografias, que são imediatamente apagadas dos seus aparelhos [telemóveis]. A equipe que está fora da Síria publica-as [online], faz entrevistas, escreve os artigos", começou por contar o jovem de 24 anos e um dos fundadores da RBSS.

Sem nunca revelar o seu nome - mas mostrando a sua cara para a câmara da estação britânica de televisão -, este sírio contou que outra forma de fazer chegar notícias aos restantes cidadãos passa pela edição de uma revista em Raqqa cujo nome - Dabea - se assemelha ao da publicação mensal do Estado Islâmico - Dabiq, onde o grupo terrorista manifesta, em edições em inglês e em francês, as suas intenções e dá conta das suas ações na Síria e no resto do mundo. "As capas são iguais. Por isso, civis ou mesmo militantes do Estado Islâmico agarram a revista sem perceberem de qual se trata.

Todos eles acabam por ver os nossos artigos, nos quais explicamos a situação que se vive na cidade, a verdadeira realidade", apontou.

Arriscar a vida pela verdade

"A Síria tornou-se um buraco negro de informação", afirmou o CPJ no verão passado. Já a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) colocou-a em 177.º lugar (em 180) na lista dos países com maior (ou menor) liberdade de expressão em 2015, apenas seguida do Turquemenistão, da Coreia do Norte e da Eritreia. Num país onde só neste ano já morreram seis jornalistas "apenas por causa desta atividade", avançam ainda a RSF, ser repórter representa um risco de vida.

O jovem sírio de 24 anos que falou com a BBC e contou alguns dos episódios por que a RBSS passou em nome da liberdade de expressão. "Um dos nossos fundadores viu o seu pai ser sequestrado pelos militantes do ISIS, que prometeram libertá-lo se em troca lhe entregássemos três dos nossos repórteres. Ele recusou-se e recebeu dois vídeos em que mostravam o pai sendo amarrado a uma árvore e depois executado, contou. Cientes dos riscos mas determinados a combater o terrorismo através da informação, adiantam também que a RBSS não vai parar. "Decidimos continuar a trabalhar, apesar de o Estado Islâmico passar o tempo à procura dos nossos repórteres. Como não conseguiram encontrar ninguém, enviaram um militante para a Turquia, onde decapitaram dois dos nossos amigos. Um deles trabalhava connosco. Até na Turquia... Pensávamos que aqui estaríamos seguros, mas não estamos", prosseguiu, explicando que "o inimigo" da sua organização não é o ISIS.

"Estamos a lutar contra a ideologia do extremismo. Se conseguíssemos derrotar o Estado Islâmico amanhã ou depois o problema voltaria a surgir com uma nova geração. Talvez passados dez anos surgisse um novo Estado Islâmico. Por isso é que estamos a lutar contra a ideologia. E como não temos armas combatemos online." Ao todo, a RBSS é seguida por quase 700 mil pessoas (entre Facebook, Twitter e YouTube), além das que acedem ao site raqqa-sl.com, onde as reportagens são disponibilizadas em árabe e inglês.

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